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Casual ~A Arte, a Vida e o Cliché~

<segunda-feira, 13 de setembro de 2010 

Estava num bar, no centro da cidade. Não, não num boteco, um “barzinho”. Estava lá na tentativa de driblar meu bloqueio criativo. Tinha um texto para entregar até o sábado e não tinha sequer ligado o computador. Tudo o que passava pela minha cabeça era cliché e sem inspiração.

Quando terminava meu whiskey, ela entrou. Loira, olhos claros. Sexy. Não sou fascinado por loiras, mas ela havia chamado a minha atenção. Ela entrou, como se estivesse procurando alguém. Pareceu ter me visto (afinal, eu estava olhando para ela de forma pouco discreta) e sentou-se ao meu lado. Pediu um Martini, eu disse que era por minha conta. Puxei um pouco de “conversa de fila de banco”, você sabe “o tempo está frio hoje, não é?”, “que calor hoje, não é?”, coisa assim. Ela se virou para mim e sorriu.

Dei meu nome falso. Quando se escreve livros, usa-se sempre um pseudônimo, e quando se usa demais esse pseudônimo, seu nome real vira seu nome falso. Ela me deu o dela, que eu não sei dizer se era um nome falso também. Percebi que não era realmente loira, seu cabelo era tingido. E percebi que era casada, pois tinha uma aliança no dedo. Geralmente, perceber isso seria a deixa para eu terminar a conversa, mas estava desesperado, “desinspirado” (se é que o termo existe). Decidi levar o jogo adiante.

Tudo que ela falava soava natural. Natural demais. Quase como se tivesse decorado. A cada palavra que ela falava, eu tentava ver a verdade por trás da máscara. Será que tinha filhos? Quanto anos realmente tinha? Com quem era casada? A conversa se extendeu e terminamos num motel ali perto.

Depois do sexo, sentamos na cama.

- O que ele faz? – Perguntei subitamente, para ver qual seria sua reação.

- É um executivo. – Resposta genérica, pensei – Sempre viajando, nunca presente.

- Filhos?

- Não, - sua voz pareceu ressentida – ele acha que não é uma boa idéia. E você?

- Tenho um cacto.

- Deve ser melhor do que limpar fraldas!

- Deve ser mesmo.

Ela se jogou em cima de mim e voltamos a transar.

Quando eu acordei, ela estava se trocando, silenciosamente.

- Vai sair enquanto eu dormo? – Perguntei sem olhar para ela.

- Algum problema?

- Não... Só que isso... é... muito cliché.

- E o que você quer? Que tenhamos um caso? – ela se sentou na cama, para colocar o sapato - Que eu desista de tudo para ficar com você?

- Não... Muito cliché também.

- Ah, tudo é cliché! Você falar que tudo é cliché, isso sim é cliché.

Levantou-se, tirou um cigaro da bolsa, acendeu-o e saiu, batendo a porta. Fiquei deitado na cama, até o dia clarear. De repente, tudo ficou claro em minha mente, como se a luz do sol tivesse retirado as nuvens da minha cabeça. O que era cliché? Aquilo nunca havia me acontecido antes. Nunca eu havia tido um sexo casual com uma mulher casada. Nunca uma mulher tinha saído enquanto eu dormia. A ficção era cliché, não a vida. Talvez a arte imite a arte, usando a vida como base. Ou talvez a vida imite a arte, usando a vida como base. Talvez a vida imite a vida, usando a arte como base. E talvez fosse hora de parar de beber whiskey. Voltei para casa e escrevi sobre a arte, a vida e o cliché. Mas não sobre ela. Nunca sobre ela. Nunca sobre aquela noite.

Nunca mais a vi. Em todos os bares, em todas as baladas. Quem era ela, nunca soube. Não me interessa. Não estava a procurando, mas sempre me perguntava se a encontraria de novo.

Mas encontrá-la, isso sim, seria cliché.

Vociferado por Shimura-Aniki
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