- Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Diga-me o que veio confessar, meu filho.
- Bom... Então. Eu queria uma audiência com o Senhor. Tem como o senhor arranjar uma?
- Audiência? Bom, eu estou te ouvindo...
- Não, não. Não com o senhor, uma audiência com O Senhor.
- Ah. Entendi. Bom... Ele está te ouvindo, meu filho.
- O senhor tem certeza?
- Claro que tenho!
- O senhor tem provas que Ele está ouvindo?
- Porque você não tem certeza que ele está te ouvindo, você acha que eu posso fazer ele te ouvir?
- O senhor deve ser o mais perto do... você sabe, do Senhor. A não ser que você seja um desses padres pedófilos que tem por aí...
- Não, não sou pedófilo. Crianças não me atraem.
- Hm, quer dizer que... Outras “coisas” te atraem?
- ‘suspiro’ Prossigamos com o assunto, sim? Por que a audiência?
- Porque eu acho que ele não está me ouvindo!
- Você está duvidando das palavras do Senhor?
- Esse é o problema: QUAIS palavras?
- Aah... er... Desculpe, meu filho, você poderia explicar qual é o seu problema?
- Veja bem: Eu posso falar. Ele está me ouvindo? Eu não sei, não tenho resposta! Então, como posso ter certeza que ele está me ouvindo?
- Talvez ele esteja ocupado e vá responder mais tarde? Ou talvez ele pediu para alguém anotar seu recado e esqueceram?
- O senhor tá me zoando?
- Olha, sejamos sinceros: você realmente acha que eu posso arranjar um encontro com Deus?
- Não pode? E um reverendo? Ou um pastor? Eles podem?
- Você poderia pedir para o Dalai Lama te arranjar o telefone de Buda que o resultado seria o mesmo.
- Não, eu não quero falar com Buda, eu quero falar com Deus.
- Sabia que a palavra “deus” é de origem grega, derivada do proto-indo-europeu, e é usada para definir, genericamente, uma divindade?
- Não, não quero falar com o deus dos europeus ou dos gregos. Kratos matou eles. Nunca jogou God of War?
- ‘suspiro’ Ok, vou ver o que posso fazer. Mas primeiro, preciso saber o porquê dessa audiência.
- Porque ele sempre me ferra!
- ...
- ...
- ... É... Por isso? Porque você tem dias ruins?
- Por que só dá merda na minha vida?
- E você acha que é culpa DELE?
- E não é?
- Ah, claro, você não teve culpa nenhuma?
- Er... Não.
- Foi Ele que fez as escolhas por você?
- Escolhas?
- É, escolhas. Foi Ele que fez? Ele decidiu as coisas por você?
- Er... Não. Mas...
- Olha, serei bem sincero: Seja homem!
- ‘assustado’
- Nossas vidas são consequências de nossas escolhas. Claro que haverá coisas “destinadas” acontecer. Mas escolhas, elas são nossas. E elas definem nossas vidas, não Deus.
- Mas ele poderia ajudar, né? Dizer qual a escolha certa...
- Qual é a escolha certa? Qual é a errada? Isso não existe. Respostas podem estar certas ou erradas, escolhas são únicas. Não existe escolha certa, só existe a escolha que você faz. Todas as escolhas terão resultados, que podem ser ruins ou boas.
- Oras, se elas podem ser ruins, elas não são erradas?
- “Certo” e “errado” são conceitos que se aplicam a curto prazo. Por isso, respostas podem ser certas ou erradas, afinal, respostas podem ser repetidas. Escolhas também podem ser repetidas, mas seus resultados nunca serão iguais. E você nunca saberá como seria se você tivesse optado pela outra opção.
- Se duas pessoas tem a mesma opção e cada uma tem um resultado diferente, tem!
- Ainda assim, mesmo com esse cenário, é impossível dizer com toda a certeza que se você tivesse ido pela porta A, ao invés da B, como Fulano, você teria o mesmo resultado que ele.
- Só para deixar claro, não entrei em porta nenhuma de Fubango nenhum. Agora... Então, a culpa é minha? Se um ônibus quebra, eu me atraso e sou demitido, a culpa é minha?
- Coisas acontecem. Existem coisas que estão fora da nossa alçada. Mas, dificilmente, alguém é demitido por simplesmente chegar atrasado UM dia no serviço, certo?
- Hm.
- Antes de eu agendar sua conversa com Ele, converse com você mesmo. Reveja sua vida. Suas escolhas. Aí, eu posso ver se Ele tem um horário na agenda Dele...

Nota do Escritor: Eu geralmente discuto com Ele.

Vociferado por Shimura-Aniki
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