Outro dia, vi um arco-íris incompleto. Devia ter, sei lá, um terço dele lá. E pensei “quando foi a última vez que eu vi um arco-iris inteiro?” E não obtive resposta. Mas não era a primeira vez que eu pensava naquilo, porque não era a primeira vez que eu via um arco-iris “quebrado”. E toda vez que via um, o mesmo pensamento vinha na mente. Por quantos anos eu tive o mesmo pensamento? Também não sei a resposta. Me pergunto, então, se isso realmente importa.
Deve importar, é a conclusão inicial que chego. Talvez (e estamos trabalhando com um “TALVEZ” bem grande e em letras garrafais aqui) o arco-íris seja um reflexo da vida. Uma manifestação “física” da vida? Quando eu era criança, sempre via arco-íris inteiros. Agora, velho, surrado, cansado, não os vejo mais. É a minha vida diminuindo? Estou tão cansado que sou a metade (ou terço) do que eu era? É a minha potência sexual? (Opa! Nada que um viagra não resolva!) Ou será que não sou só eu que estou vendo que eles estão ficando... Invisíveis? Se for... Bom, é um evento “global”. Se são todos afetados, deve ser importante, certo?
Mas qual o sentido do arco-íris? Vamos ignorar lendas e mitos. Pontes que ligam Asgard à Terra ou potes de ouro no fim. E ignoremos a ciência, refração da água e tals. Por que ele existe? Talvez mais importante do que isso... Por que ninguém percebeu que ele está sumindo? Ele é tão inimportante (isso existe?) que ninguém se deu conta? Estamos a beira do fim dos arco-íris? Claro que não. Levando em conta a ciência, ele sempre existirá. Talvez quebrado, mas existirá.
Mas toda essa conversa de arco-íris me faz pensa outra coisa. Nos fins. Conclusões. Términos.
Tudo começa. Aí, termina. E aí, recomeça. E aí, termina de novo. Peraí, no recomeço... não deveríamos ter um “retérmino”? Os começos são novos, mas os fins são todos iguais?
Por que as pessoas gostam de olhar para atrás e dizer “ah, o passado era melhor”? O que faz dele melhor? Acho que sempre romantizam demais o passado. Lembram das coisas boas e relevam as partes ruins (não as extremamente ruins, mas as mais ou menos ruins).
Por que nunca vemos o que temos até perdermos? Bom, isso é uma frase clássica. Tava no manual “se você for mencionar o passado, é obrigatório fazer essa citação”. Não costumo pensar muito nisso, para falar a verdade. No fim, acho que essa pergunta, juntamente com a anterior, é de “gente museu”: pessoas que vivem no passado. E por que viver no passado? Olham para trás, assim, não olham para frente e evitam ter que encarar o fim.
Porque fins são dolorosos. Fins são tristes. Deixamos uma parte de nós quando... alguma coisa chega ao fim. Relacionamentos. Amizades. Empregos. Cursos. O real problema é perda da segurança. Se tem um emprego, é certeza que amanhã (se não for sábado o dia que você estiver lendo isso... A não ser que você trampe no domingo) você terá para onde ir, o que fazer. O ser humano gosta de “certezas”, da idéia de que não haverá “instabilidade”. Isso é impossível, e talvez por isso que a idéia da estabilidade seja tão importante. Então... Na verdade, não é o medo da dor do fim, mas sim da perda do que tem de estabilizado que o ser humano teme.
Por que não narro essa parte em primeira pessoa? Porque eu não temo os fins. O fim da estabilidade também significa mudança. Pessoas temem mudanças. Mas mudanças são boas. Todas são. Mesmo as que não parecem boas. Você pode pensar “diz isso para o cara que perdeu tudo e agora mora na rua”. Eu digo sim, traz ele aqui e eu digo. Porque toda mudança te oference uma chance singular de aprendizado. E todo aprendizado, leva à elevação pessoal, o “improvement”. Bom, é nisso que eu acredito, pelo menos. Perdemos uma parte de nós quando algo termina... Mas ganhamos alguma outra coisa quando alguma outra coisa começa.
E a partir de agora, se eu disser que alguma coisa recomeçou, quando ela terminar, direi que ela reterminou...
E se alguém ver um arco-íris inteiro, tira uma foto e manda para mim...
Vociferado
por Shimura-Aniki
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