Eu estava outro dia numa exposição de flores (nem perguntem). Enquanto andava pelo local, não pude deixar de reparar nas “instalações” presentes. E digo instalações entre aspas devido a sua natureza, literalmente falando. (Uma das mais “interessantes” com certeza era uma com um muro, imitando um castelo, mini-masmorras e tudo mais, com flores espalhadas ao seu redor. Havia canhões, ou tubos de ferro que representavam canhões, com flores dentro. Há uma ironia/crítica aqui, mas não me aprofundarei nela, mesmo porque, a pessoa que idealizou a instalação talvez nem tenha pensado nisso. Fato engraçado: uma mulher vira para sua acompanhante, aparentemente sua mãe, e diz “olha, essa aqui é a Muralha da China. Tem os até os canhões (...)”. Puxa, nunca soube que a Muralha da China tinha canhões, afinal, não imaginava que houvessem canhões na época em que foi construída, mas enfim...) Enquanto as “instalações” tentavam transmitir idéias, era inegável que o mais importante era a beleza das flores.
Surge daí, então, a maior ironia de todas, a sacada que ninguém percebeu, muito menos os “artistas” que produziram as “instalações”. A maior de todas as instalações era uma que ocupava o centro do lugar, onde fica uma “lagoa artificial” (leia-se, piscina de pobre). Consistia em prateleiras de vidro rodeando a lagoa, com flores dentro de vasos também de vidros, decorados com aquelas bolinhas coloridas e uma flor. As flores eram lindas, isso é indiscutível. Eram, possivelmente, as flores mais bonitas do evento. E elas foram cortadas para servir de adorno. Lembrei me então dos Jogos Olímpicos. Mas não me refiro a essa versão aguada que temos hoje, e sim às verdadeiras Olimpíadas, aqueles que começaram em Atenas!
Caso não seja de conhecimento geral, na época dos verdadeiros Jogos Olímpicos, quando um atleta batia o recorde mundial, ele era sacrificado, pois havia se tornado divino (ou algo assim, não sou historiador, caramba!). Foi o que passou pela minha cabeça, quando vi as flores na “instalação”. Pagaram o preço pela beleza, foram sacrificadas em nome de uma causa maior. Ou será que eram tão belas que transcenderam o plano mortal? Suas belezas eram tão grandes que não podiam mais ficar aqui? E, pensando bem, isso não é só na “instalação”. Quantas vezes não vemos rosas (e outras flores) sendo vendidas em bouquet (vocês sabem, certo? Não é “buquê”, e sim, bouquet, palavra francesa... Ô gente de mente suja...)? E para quê? Dia dos Namorados? Aniversários? Dias das Mães? Qual a idéia? A de que “comprei algo lindo para uma pessoa linda”? Já pensaram que flores cortadas têm vida curta?
(Isso me lembra uma coisa que eu sempre digo: Quando você compra um bouquet de flores e entrega para a pessoa que você ama, é uma forma de dizer “ok, esse é o meu amor por você: Ele é lindo agora, mas vai morrer logo”. A solução é comprar uma flor em um vaso? É uma forma de dizer “ok, esse é o meu amor por você: Ele é lindo, não vai morrer logo, mas só se você cuidar muito dele, senão as flores murcham e só sobram as folhas, que são feias”. A solução? Não compre flores.)
Ao meu ver, beleza é sacrifício.
Vociferado
por Shimura-Aniki
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